sexta-feira, março 11, 2011

Absurdescência

Ela sentia falta dele... Ainda que custasse aceitar, ainda que aceitasse, não acreditava.
Subestimara sua inteligência, sua audácia, sua petulância e porque não, seu charme mudo...

Os ponteiros do relógio pareciam estampidos de tiros naquele silêncio ensurdecedor. Enquanto a chuva caía, lembrava da imagem das palavras saindo daquela boca. O pensamento ia longe ao observar cada contração muscular na face, a língua fazia uma curiosa dança e por vezes quase tocava os lábios...
Imersa, extasiada, boba, pasma... O assunto em discussão era segundo plano, também muito interessante, era daqueles temas em que realmente não se sabe onde termina, e fazia tão bem pra alma... Sabia que sentiria falta daquele momento algum dia, no exato instante em que se passava...

Depois de uns dias, restou-lhe apenas a lembrança, esta as vezes tem a imagem borrada, as vezes o som abafado, nada muito nítido. E na cabeça brigavam fatos e hipóteses... Em que espaço de tempo teria ficado aquele momento?

Um misto de sorriso com carinho era confundido com o aperto da saudade... A confusão dos sentimentos, pensamentos. As emoções e suas hipóteses contra a razão e seus fatos.

Correu tomar um banho, tamanho desespero por encontrar uma cura. Arrumou-se linda! Saiu caminhar, queria fazê-lo até os pés sangrarem, conversou, viu pessoas, e quando deu por si ainda não tinha desligado o chuveiro.
Deus! E agora?!

Novamente o barulho da chuva veio acariciar seus ouvidos...
E o tic-tac...

E como numa bola de neve, os banhos se tornaram frequentes em busca de uma limpeza na alma, sua memória era sua maior inimiga. O que fazer? Se perguntava nos lapsos de realidade que lhe sobravam. As noites se tornaram dias, e os dias rugiam como pesadelos longos e perturbadores.

Até que um dia, o telefone tocou...

Um comentário:

Maíra K. disse...

E, hoje, tudo que ele parece é apenas um sonho. E ela custa a acreditar que o que lhe pareceu mais real na vida SÓ foi isso: um sonho. Lembranças perdidas no fundo da alma.